A natureza humana, mesmo após o pecado, não se radicalizou na maldade a ponto de apagar de si a Imagem Divina. Essa Imagem reside na essência do ser, nas faculdades da vontade e da razão, e, por ser-lhe essencial, não pode ser apagada, sob pena de desnaturá-lo em sua própria identidade, como atesta a Escritura:
“ENTÃO DEUS DISSE: “FAÇAMOS O HOMEM À NOSSA IMAGEM E SEMELHANÇA. E DEUS CRIOU O HOMEM À SUA IMAGEM; CRIOU À IMAGEM DE DEUS O HOMEM E A MULHER.” (Gênesis 1, 26 e 27)
Sem essa Imagem, regrediríamos à condição de animais irracionais, sem vestígio de vida espiritual. Ela é o reflexo do próprio Deus imortal, o selo que nos predispõe à filiação por adoção. Esta Imagem só se apagaria se a Luz que a projeta se extinguisse. Contudo, a Luz Divina é eterna e jamais cessa de refletir o Criador em suas criaturas, sobretudo no ser humano. Por ser eterna, seu reflexo perdurará. A perfeição ou corrupção dessa Imagem depende da nossa adesão ou repúdio ao Bem ou ao mal, respectivamente. É nela que reside a imortalidade da alma, conforme o relato bíblico do sopro da vida:
“O SENHOR DEUS FORMOU, POIS, O HOMEM DO BARRO DA TERRA, E INSPIROU-LHE NAS NARINAS O SOPRO DA VIDA, E O HOMEM SE TORNOU UM SER VIVENTE.” (Gênesis 2, 7)
A Imagem de Deus deve estar viva e ativa em nós para que sejamos convencidos do pecado e do Juízo Divino. Por essa razão, o pecado não a despojou do pecador. Não é o ser humano quem restaura a Imagem de Deus pela salvação. Pelo contrário, nós nos tornamos conscientes do pecado e da salvação por meio desta Imagem, que age em todos para nos restaurar no Amor Benfeitor, moldando-nos a Deus:
“MAS TODOS NÓS TEMOS O ROSTO DESCOBERTO, REFLETIMOS COMO NUM ESPELHO A GLÓRIA DO SENHOR E NOS VEMOS TRANSFORMADOS NESSA IMAGEM, SEMPRE MAIS RESPLANDESCENTES, PELO ESPÍRITO DO SENHOR." (II Coríntios 3.18) “(...) REVESTI-VOS DO NOVO, QUE SE VAI RESTAURANDO CONSTANTEMENTE À IMAGEM DAQUELE QUE O ENVIOU ATÉ ATINGIR O PERFEITO CONHECIMENTO." (Colossenses 3.10)
Portanto, mesmo afastados de Deus, mantivemos intacta e ativa a Sua Imagem. É ela que nos possibilita o reconhecimento de uma bondade natural, mesmo antes da conversão, e por meio dela expressamos uma dignidade inerente à convivência social, familiar e individual. Exemplo disso é que o amor e a dignidade de pai ou mãe para com o filho não são privilégios apenas daqueles que estão convertidos à fé cristã.