A Eucaristia é um dos maiores mistérios da nossa fé. Como podemos crer na presença real de Jesus — seu Corpo e Sangue — se nossos sentidos nos mostram apenas pão e vinho?
A resposta está na distinção entre a substância e os acidentes das coisas. Nossos sentidos percebem apenas os acidentes: a aparência, a cor, o cheiro e o sabor. Eles não conseguem captar a substância, a verdadeira natureza do que algo é. Pense no mar: a água, em sua essência, é incolor e transparente, mas a vemos com a cor azul-esverdeada por causa da luz e dos minerais. A cor é um acidente, enquanto a substância da água (H2o) continua a mesma. Da mesma forma, o espaço não tem cor, mas o vemos azul por uma ilusão óptica é um acidente. Deus, em sua sabedoria, nos convida a ir além do que vemos. Ele nos revela uma realidade que a razão, por si só, não pode alcançar.
No sacramento da Eucaristia, Ele altera a substância do pão e do vinho, mudando-a em carne e sangue, enquanto mantém os acidentes visíveis (a forma, a cor, o sabor, o aroma etc.) para que não nos choquemos. Ele nos oferece um alimento invisível para a nossa alma, um banquete celestial que transcende a percepção humana. Como diz o Livro de Tobias: “Parecia-vos que eu comia e bebia convosco, mas o meu alimento é um manjar invisível e a minha bebida não pode ser vista pelos homens” (Tobias 12,19).
Essa necessidade de ver para crer é uma tentação antiga.
Os fariseus viam Jesus apenas como um homem e, por isso, não conseguiam acreditar em sua divindade. Eles perguntaram: “Como pode este homem nos dar de comer a sua carne?” (João 6,52). Assim como eles, que viam apenas a humanidade de Cristo, muitos hoje veem apenas o pão e o vinho, e não o milagre da transubstanciação. Jesus, no entanto, nos lembra que a verdadeira fé exige a confiança em algo que está além do alcance dos nossos olhos. Ele disse a Tomé: “Feliz aquele que não viu, e creu” (João 20,29).
A Eucaristia é a prova de que a fé não se torna refém dos nossos sentidos, mas os transcende. É o ponto de encontro entre o visível e o invisível, onde a nossa razão se submete à verdade de Deus e nosso coração se abre para o mistério de sua presença real.