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Cristo, o Cordeiro sacrificado, apresenta-se a nós como se manifestou a São Tomé, ainda com os sinais de sua morte, e assim, Ele se revela a todos nós, continuamente: 

"Vi no meio do trono um Cordeiro de pé, como que sacrificado." (Apocalipse 5,6) 

As palavras de Jesus a São Tomé ressoam com a realidade de Sua presença gloriosa, mas marcada pelo sacrifício: 

"Introduz aqui teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé." (S. João 20,27).

A Eucaristia é, portanto, o memorial do Corpo vivo e presente na realidade atual

O conceito de "memória" possui nuances que são vitais para a nossa fé. 

De modo geral, memória é a capacidade de conservar mentalmente informações sobre pessoas, fatos ou circunstâncias, sendo um testemunho do que aconteceu ou está acontecendo. 

Memória Póstuma (Mnēma) e Memória Atual (Anamnesis)

 No grego bíblico, encontramos uma distinção fundamental: 

  • Memória Póstuma ou Mnēma (μνη~μα / μνημοσ∪νον): Refere-se à simples lembrança de algo com o qual não podemos mais interagir, algo que é guardado apenas no pensamento. É a recordação de um evento ou pessoa que pertence exclusivamente ao passado. Jesus usa essa palavra ao falar da mulher que o ungiu: "Derramando esse perfume em meu corpo, ela o faz em vista à minha sepultura. Em verdade vos digo: em toda parte onde for pregado este Evangelho pelo mundo inteiro, será contado em sua memória (μνημοσυνον) o que ela fez." (Mateus 26,12-13). Aqui, a ação da mulher é lembrada, mas o ato em si está concluído no passado.
  • Memória Atual ou Anamnesis (αναμνησιν): Significa trazer para os dias atuais uma realidade passada que continua ativa no presente, tornando-a eficaz no aqui e agora. É algo que, embora tenha acontecido no passado, pode ser trazido para a atualidade para interagirmos com ele no presente, como o sacrifício de Cristo. Na Última Ceia, Jesus instrui: "Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e o deu dizendo: Isto é o meu Corpo, que é dado por vós, fazei isto em memória (αναμνησιν) de mim." (Lucas 22,19). Essa "memória" eucarística não é mera recordação, mas a reapresentação sacramental do único e eterno sacrifício de Cristo no Calvário.

Assim como as sementes lançadas à terra no passado se tornam árvores que, no presente, produzem frutos e novas sementes ligadas à primeira, assim é o Corpo e Sangue de Cristo presentes no pão e vinho sagrados. 

A Eucaristia não é um teatro do passado, mas a participação em um evento que, embora histórico, transcende o tempo e se faz presente e atuante para a nossa salvação.

Exemplo prático de 'anamnesi's na vida cristã é a recordação dos pecados na liturgia penitencial: 

"Nesses sacrifícios; faz-se recordação (αναμνησις) de pecados todos os anos." (Hebreus 10,3). 

A recordação desses pecados não é a lembrança de algo inexistente, mas a ativação da sua realidade passada que ainda produz efeito no presente que é nossa condenação diante de Deus, e para nos livrarmos desse juízo condenatório, levamos esses pecados ao Altar e, pela graça de Deus, os destruímos no presente, para sermos perdoados.

Na Eucaristia, a Igreja também celebra a 'anamnesis:' não apenas se lembra de Cristo, mas o torna presente, em sua morte e ressurreição, para que possamos nos unir a Ele e participar plenamente de sua obra salvadora.



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