R: O livre arbítrio, como capacidade de escolher, nunca é totalmente extinto nesta vida, mas isto não se aplica ao poder de reverter os efeitos de uma escolha já realizada. A extinção efetiva do direito de escolha ocorre quando o ser racional, no uso pleno de sua liberdade e razão, realiza decisões que o fixam irrevogavelmente em determinado estado. A maioria dos atos da vida possui efeitos irreversíveis. Quem comete um assassinato já não tem o livre arbítrio de não ter sido assassino. No entanto, ele mantém o livre arbítrio para buscar o perdão de Deus e a reparação (dentro do possível) dos danos causados.O exemplo clássico de uma escolha definitiva e irreversível é a dos anjos que, em plena luz de Deus e testemunhando Sua bondade, escolheram rejeitá-Lo. Por terem escolhido com uma vontade perfeitamente informada, sem influências e imutável, perderam para sempre o direito de se arrepender e retornar.
"PORQUE AQUELES QUE FORAM ILUMINADOS, SABOREARAM O DOM CELESTIAL, PARTICIPARAM DOS DONS DO ESPÍRITO SANTO, EXPERIMENTARAM A DOÇURA DA PALAVRA DE DEUS E AS MARAVILHAS DO MUNDO VINDOURO, E, APESAR DISSO, O ABANDONARAM, É IMPOSSÍVEL QUE SE RENOVEM OUTRA VEZ PELO ARREPENDIMENTO;" (Hebreus 6, 4-6)
R: O conflito entre o desejo do bem e a prática do mal reside na fragilidade da vontade humana após a Queda (o pecado original). A vontade livre sempre busca o que percebe como felicidade ou bem, mas nem sempre o que é aprazível (prazeroso) é o Bem verdadeiro. A felicidade desejada pode ser buscada em ações ruins ou desordenadas, pois a razão nem sempre consegue dominar as paixões. O indivíduo busca a paz, mas, ao tentar alcançá-la sem o auxílio da graça, pode inadvertidamente causar conflitos. Isso ocorre quando a vontade se permite ser dominada por inclinações que não são aconselhadas, dirigidas ou informadas pela consciência iluminada por Deus.É nesse contexto de luta interior que São Paulo adverte:
"NÃO FAÇO O BEM QUE QUERO, MAS O MAL QUE NÃO QUERO.” (Romanos 7, 19)
Assim, a vontade humana é uma realidade paradoxal, como explica Santo Agostinho:
"(...) A VONTADE É SEMPRE LIVRE, MAS NEM SEMPRE É BOA. OU É LIVRE DE DEUS [isto é, separada de Deus], E NESTA LIBERDADE SE CONDENA; OU É LIVRE DO PECADO, E NESTA LIBERDADE SE SALVA.” (AGOSTINHO. A Graça e a Liberdade. Cap. XV, p. 34)
O livre arbítrio, portanto, é a capacidade de escolher, mas a bondade ou a eficácia dessa escolha depende de estar submetida à graça de Deus.