No passado, grupos distantes da fé católica defenderam a teoria da "depravação total", alegando que o ser humano pecador não possuía absolutamente nenhum bem em si. Contudo, essa visão, uma vez confrontada, foi frequentemente abandonada, pois ignora a Lei Natural (1). Mesmo após a queda, a vontade humana não se depravou por completo. A prova mais evidente disso é o amor-próprio – o desejo de viver e ser feliz – que persiste até no pior indivíduo(2). O amor pela vida é um bem natural em todos os seres: racionais e irracionais, santos e pecadores, anjos e humanos. Por Sua Graça Comum, Deus preserva em nós esse desejo natural pela felicidade e pelo viver.
O pecado não conseguiu apagar a essência boa da criação. Nas palavras de São Paulo: "POIS TODA CRIAÇÃO DE DEUS É BOA, E NADA QUE SEJA RECEBIDO COM AÇÃO DE GRAÇA DEVE SER REJEITADO" (1 Timóteo 4,4). E o Salmista complementa: "ALEGRA-SE O SENHOR EM SUAS OBRAS" (Salmo 104, 31). Mesmo os mais perversos buscam o Bem para si. Nem mesmo dos demônios se afirma que sua natureza e vontade são totalmente corrompidas, pois o viver e o querer viver são dons de Deus e, portanto, bens naturais. Quando desejam a vida, não estão pecando. O problema não é o que se busca, mas como se busca. O mal é, fundamentalmente, a busca distorcida pelo Bem:
Paz, vida eterna, prazer e conforto são bens legítimos. Tornam-se mal apenas na corrupção dos meios ou dos fins que desviam da Vontade Divina.
Somos propriedades de Deus: "PORQUE DELE, E POR ELE SÃO TODAS AS COISAS" (Romanos 11, 36).O que hoje alguns grupos defendem como "depravação total" é, na verdade, a antiga Doutrina Católica da Corrupção Humana e a necessidade da Graça Santificante.
"No estado da natureza corrupta, porém, o homem falha, mesmo no que poderia por natureza alcançar... Contudo, pelo pecado não ficou a natureza humana totalmente corrupta, de modo a ficar privada de todo bem natural... o homem necessita, no estado da natureza íntegra, do auxílio da graça... No estado da natureza corrupta, porém, precisa desse auxílio, primeiro, para fortificar-se, e depois para praticar o bem da virtude sobrenatural..."
(AQUINO, Santo Tomás. Suma Teológica. Q 109 Art. 2º Livro Ia IIea parte, anos 1200 DC)
1. A Lei Natural, impressa na alma humana, é a participação na Lei Eterna de Deus e a norma moral que a razão humana descobre (cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 1954-1955).
2. Mesmo no estado de natureza decaída, a razão e a vontade não foram destruídas, mas apenas diminuídas e feridas em sua excelência. O amor-próprio refere-se aqui ao instinto de autopreservação e à busca de bens particulares, que é a inclinação natural para a felicidade.