1. Fraternidade e Justiça Social são a mesma coisa?
2. Fraternidade é Justiça?
3. A Partilha que provém do amor fraterno é algo prejudicial ao progresso pessoal e social?
A teologia católica, embasada na lei natural e na revelação divina, distingue e, ao mesmo tempo, harmoniza os conceitos de justiça e fraternidade. Enquanto a justiça é o alicerce fundamental das relações humanas, a fraternidade ou caridade é o seu ápice, o motor que a eleva à perfeição.
Portanto, o amor fraterno está além da mera justiça, pois a justiça nos obriga a não roubar, mas a caridade nos impulsiona a partilhar o que é nosso com quem também necessita.
Embora distintas, a fraternidade e a justiça social são inseparáveis.
É inegável que o amor fraterno ao próximo passa necessariamente pela justiça individual e social. Não pode haver caridade sem justiça, pois amar o próximo implica também respeitar seus direitos, mesmo que a partilha não tome por régua o direito, mas a necessidade e a dignidade humana. Aquele que se apropria indevidamente dos bens alheios ou os desperdiça em luxo ao custo da privação dos direitos básicos aos mais vulneráveis não age com amor. A fraternidae, fruto do amor divino, é a força motriz que impulsiona o avanço da justiça social. Historicamente, a fé católica, em sua Doutrina Social, mesmo com resistências internas vindas de grupos sectários e fundamentalistas, esteve à frente de conquistas como a luta contra a escravidão, a defesa do salário justo e a busca por direitos civis.1 A ordem natural do amor começa por nós mesmos, pois só podemos amar o próximo se nos amarmos primeiro. Esse amor-próprio não é egoísmo, mas o cuidado para que o amor não se corrompe no desequilíbrio para que nossa bondade não seja explorada por indivíduos de má-fé e se torne algo destrutivo. Em suma, a fraternidade torna a justiça social eficaz; e a justiça social deve, por sua vez, ser permeada pela caridade.
A justiça é justa quando dá o que é devido.
Mas ela se aperfeiçoa quando realiza o direito balizado no amor fraterno entre os povos, no reconhecimento e nas concessões daquilo que está além da mera obrigação.
1. Parece que a fraternidadee a justiça social são a mesma coisa.
Resposta: A justiça social é uma virtude moral que reivindica e defende direitos, enquanto a caridade é uma virtude teologal que partilha por amor, indo além do que é legalmente exigido. Na justiça social está contida a fraternidade entre os povos e indivíduos, indo além da justiça e do direito, porque alcança a proteção a dignidade humana independentemente de raça, gênero, cor, classe social, cultural, e ainda, independente até de qualquer mérito humano.
2. Parece que a fraternidade é justiça.
Resposta: A fraternidade não se resume em fazer justiça, mas a pressupõe. Para sermos fraternos, precisamos primeiro ser justos, respeitando os direitos do próximo. Como já dito, a fraternidade, no entanto, vai além da justiça, motivando-nos a dar o que não somos obrigados.
3. Parece que a partilha que resulta do fraternidade foi um malefício ao progresso pessoal e social.
Resposta: Pelo contrário. A fraternidade, que tem como foco a dignidade humana e o bem-querer entre povos, nações e indivíduos, como fruto do amor que transcende a lei e a justiça, foi o principal motor para o progresso social. Foi a partir dela que a sociedade luta e continua a lutar por um mundo mais justo, no reconhecimento de direitos aqueles que deles necessitam, além de causar uma mudança no pensamento social trazida pela consciência do necessário respeito à dignidade dos mais pobres e necessitados.
1 A ordem social e o seu progresso devem, pois, reverter sempre em bem das pessoas, já que a ordem das coisas deve estar subordinada à ordem das pessoas e não ao contrário; foi o próprio Senhor quem o insinuou ao dizer que o sábado fora feito para o homem, não o homem para o sábado. Essa ordem, fundada na verdade, construída sobre a justiça e vivificada pelo amor, deve ser cada vez mais desenvolvida e, na liberdade, deve encontrar um equilíbrio cada vez mais humano. Para o conseguir, será necessária a renovação da mentalidade e a introdução de amplas reformas sociais. Embora entre os homens haja diferenças, a igual dignidade pessoal postula, no entanto, que se chegue a condições de vida mais humanas e justas. Com efeito, as excessivas desigualdades econômicas e sociais entre os membros e povos da única família humana provocam o escândalo e são obstáculo à justiça social, à equidade, à dignidade da pessoa humana e, finalmente, à paz social e internacional. (Encíclica Gaudium et Espes. Parágrafos 27 e 28)