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A Paixão como Causa Suficiente e a Ressurreição Testemunha da Redenção.

  • A Verdade Inarredável da Redenção.

 Por incrível que pareça, existe uma visão que deprecia a Paixão de Cristo no seu Martírio, considerando-a uma derrota, uma maldição a ser esquecida e desprezada. Esta negação do valor sacrificial da morte de Cristo é um erro gravíssimo, que implica rejeitar a Verdade Divinamente Revelada e a negação do próprio meio pelo qual a salvação nos é oferecida e efetivada. 

  • Causa e Efeito: Paixão e Ressurreição.

 No Plano Redentor, a Paixão de Cristo é a Causa e a Ressurreição é o Efeito. E toda causa é sempre superior ao seu efeito. 

  • A Necessidade do Sacrifício Reparador: O DÉBITO DE AMOR SÓ COM AMOR SE PAGA.

 A Justiça Divina exige que o dano causado pelo pecado seja reparado por um ganho (compensação). O pecado humano causou grave lesão a toda criação ao afastá-la do Deus Criador, trazendo a morte, a imperfeição e o dano. A violação do pacto de Amor com Deus nos levou à condição de devedores para com Ele. Somos devedores do Amor por Ele ofertado, o qual voluntariamente desprezamos. Logo, o pecado exige a necessidade de reconciliação por meio de uma oferta de Amor para saldar esse débito. Não há Amor Maior do que o Amor de Deus por nós. Por isso, o desamor a Deus é redimido pelo Amor de Deus que morreu na cruz depois de nos assumir em carne. Deus, o Justo Juiz, harmoniza a Misericórdia com a Justiça, absolvendo o pecador, mas sem renunciar à satisfação do débito que pecador nenhum poderia saldar. Por isso, o Verbo de Deus se Encarnou em nossa Natureza Humana – pois o gênero que pecou deveria saldar sua dívida de pecado. Contudo, a Vítima Sacrificial (Cristo) deveria ter também Natureza Divina, pois só o que é Deus é digno de ser ofertado a Deus por Amor de todos nós.

Santo Tomás de Aquino ensina: 

Também a Justiça depende da Vontade Divina, que exige do próprio gênero humano, a satisfação pelo pecado.”[1]
"Satisfazendo o Cristo por Ele, com sua Paixão, venceu o diabo e liberou o homem, não pelo só poder da Divindade, mas também pela justificação e pela humilhação da Paixão..."[2]
  • A Superação dos Antigos Sacrifícios Simbólicos de Animais.

 Na Antiga Aliança, o sacrifício que removia a culpa era realizado pela MORTE dos cordeiros animais, que prefiguravam o sacrifício de Cristo: "SACRIFICARÁS um NOVILHO em SACRIFÍCIO que PAGA A CULPA pelo pecado; por esse sacrifício TIRARÁS O PECADO do ALTAR, (Êxodo 29. 36)". Com a Paixão, o Sacrifício Maior, Perfeito e Suficiente, aboliu-se o culto simbólico. 

Eis o CORDEIRO DE DEUS, que TIRAIS O PECADO DO MUNDO!” (São João 1. 29)

 O "tirar o pecado do mundo" é uma função de Cristo em Sua condição de Cordeiro, apontando que a purgação humana se realiza no ato de sacrifício. Na Cruz, Deus assume a velha natureza humana para que, morrendo nela, mate também o pecado.As Escrituras confirmam: 

  • "Sabemos que nosso velho homem FOI CRUCIFICADO COM ELE, para que seja reduzida a impotência o corpo (outrora) subjugado pelo pecado, e já não sejamos escravos do pecado.” (Romanos 6.6)
  • Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser NA CRUZ DO NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, pelo qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” (Gálatas 6, 14)
  • "Foi em virtude desta vontade de Deus, que temos sido santificados uma vez para sempre, PELA OFERTA DO CORPO DE JESUS CRISTO.” (Hebreus 10,10)
  • "Levou nossos pecados EM SEU CORPO SOBRE O MADEIRO, para que mortos pelos nossos pecados, vivamos para a Justiça. Por fim, POR SUAS CHAGAS FOMOS CURADOS." (1 S. Pedro 2, 24; Is 53, 5)

 Tudo que Cristo padeceu em sacrifício se ordenava à nossa salvação. Santo Tomás explica que as condições da redenção são "o ato de pagar e o preço a ser pago. O preço da nossa redenção é o preço de Cristo, ou a sua vida corpórea que estava em seu sangue. E esse preço Cristo mesmo pagou. Por onde, o ato de pagar e o preço do pagamento pertencem a Cristo, enquanto HOMEM."[3] 

Conclusão: A Ressurreição como Efeito e Testemunho da Crucificação.

 O sacrifício é a CAUSA SUFICIENTE para nossa salvação. Lembremos das palavras finais de Cristo na cruz: "Está CONSUMADO! E inclinando a cabeça, rendeu seu Espírito.” (São João 19, 28-30).Desta forma, a Ressurreição é o EFEITO que testemunha a aceitação por Deus do pagamento efetuado, removendo os obstáculos da Justiça que impediam nosso acesso à vida eterna. A maldição se tornou Benção (Gal. 3. 13). 

Se fomos feitos o mesmo ser com Ele por uma morte semelhante à sua, SÊ-LO-EMOS IGUALMENTE POR UMA COMUM RESSURREIÇÃO.” (Romanos 6,5)

 A Ressurreição garante nossa participação plena nos Bens Divinos adquiridos pela Morte de Cristo (vida eterna, santidade), tanto em corpo quanto em espírito. 

Santo Agostinho resume: 

"Foi entregue por causa dos nossos pecados, ressurgiu por causa da nossa justificação."[4]

 A fé que busca a salvação (o efeito) baseada apenas na ressurreição, em desprezo à causa (a crucificação e o sacrifício), está equivocada, pois não se pode obter um efeito sem a causa. Cristo veio para morrer por nós em sacrifício – e não por morte natural, que é a consequência do pecado que Ele não tinha. 


Referências:

1. Suma Teológica, Q 46, art. 2º da Paixão de Cristo.

 2. Suma Teológica, Q 46 art. 3º Paixão de Cristo. 

3. Suma Teológica, Q 53, art. 5º da Ressurreição.

4. Santo Agostinho, Sermão da Ressurreição, citando Romanos 4:25: "Foi entregue por causa dos nossos pecados, e ressuscitou por causa da nossa justificação." 








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