IMAGENS SACRAS vs. ÍDOLOS: ENTENDENDO A DISTINÇÃO.

Já se perguntou qual a diferença entre uma imagem sacra e um ídolo? À primeira vista, a distinção pode parecer sutil, mas ela é fundamental para a compreensão da importância da iconografia cristã. Aprofundarmo-nos nessa questão nos ajuda a discernir a verdadeira devoção da superstição. 


O Que é Idolatria?

 A idolatria é, em sua essência, uma superstição. Ela se manifesta na crença equivocada de que uma imagem criada pelas mãos humanas pode possuir poderes divinos ou mágicos. Isso ocorre, quando se trata essa imagem como um ser vivo ou uma divindade, dedicando-lhe não apenas veneração, mas adoração que seria devida somente a Deus. A adoração envolve sempre uma oferta de sacrifício de bens e riquezas ou sangue, em troca do perdão dos pecados para a vida eterna, atribuindo à estátua, virtudes como a onipotência,  onipresente e a onisciência. Mas a grande diferença reside em que: 

  • A imagem do ídolo não retrata ninguém real, nem qualquer acontecimento ou realidade que seja útil à espiritualidade cristã. O ídolo é um ‘deus’ inexistente, que só habita na imaginação, e é concebido pelas mãos humanas. Na idolatria, o ser humano inverte os papéis: ele se torna o criador de seu próprio 'deus', em vez de reconhecer Deus verdadeiro como seu Criador.

A Natureza da Imagem Sacra:

Por outro lado, a imagem sacra possui sempre um significado. Ela não é adorada, pois a ela não se oferta sacrifício sangue em troca do perdão para vida eterna, como fazemos na adoração cristã recebendo o pão (carne) e o vinho (sangue) para ofertar a Deus, mas venerada, que significa que lhe devotamos o mesmo respeito com o qual tratamos uma relíquia ou objeto de valor afetivo inestimável. Nos serve como memorial, uma representação gráfica de acontecimentos, pessoas ou de realidades espirituais maiores. A imagem sacra nos ensina sobre a fé e nos ajudar a crer, representando: 

  • Pessoas reais: como Jesus Cristo, a Virgem Maria, os santos.
  • Fatos históricos da salvação: como o Nascimento de Jesus, a Crucifixão, a Ressurreição.
  • Realidades sagradas: símbolos que apontam para verdades divinas, como a Pomba do Espírito Santo e o Cordeiro que prefigura Jesus Cristo.

Exemplo clássico foi a Arca da Aliança. Mais que um simples baú de madeira de acácia (não carvalho, como mencionado no original), a Arca era um objeto sagrado que em seu interior, guardava tesouros espirituais de valor inestimável, quais sejam: 

  • As Tábuas da Lei: o sinal da aliança de Deus com seu povo, representando Sua Palavra e Sua vontade como o verdadeiro Legislador.
  • Uma porção do Maná: o "pão do céu" que sustentou o povo no deserto, prefigurando Cristo como o Pão Vivo que desceu do Céu (João 6, 31.51).
  • A Vara de Arão que floresceu: símbolo da autoridade sacerdotal concedida por Deus, apontando para Jesus como o Sumo Sacerdote eterno (Êxodo 4, 17; Hebreus 5, 6).

Dessa forma, a Arca da Aliança era a imagem simbólica do próprio Cristo no "ventre de Maria", pois Ele é o verdadeiro Pão do Céu; o Sumo Sacerdote e o Legislador definitivo (Isaías 33, 22). Outra poderosa imagem simbólica é a da vasilha de barro sendo moldada pelo oleiro. Essa imagem, presente nas Escrituras, ilustra a humanidade imperfeita e pecadora sendo constantemente aperfeiçoada nas mãos de Deus: "...como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel." (Jeremias 18, 6) Essa distinção é crucial: enquanto o ídolo aprisiona a fé numa criação mental, a imagem sacra a liberta, expandindo à visão a compreensão de uma realidade ou revelação Divina que antes só existia em nossa mente. Portanto, as imagens sacras são apenas ferramentas pedagógicas. Não são deuses ou entidades vivas, mas representações gráficas que por meio da visão nos ajudam a elevar nosso pensamento e coração ao que foi falado, recordando-nos por meio da visão, as verdades da fé e a presença de Deus em nossa história.