VENERAR E ADORAR: QUAL É A DIFERENÇA?

Afinal, venerar e adorar são a mesma coisa? Essa é uma dúvida comum, e a resposta é um sonoro não. Embora ambas as ações envolvam algum grau de reverência, a distinção entre elas é fundamental para uma compreensão correta da fé e para evitar equívocos como a idolatria. 


Da Honra Devida: 

Toda adoração é uma forma de honraria, mas nem toda honraria é adoração. Há honras que são próprias e exclusivas de Deus, e há outras que o próprio Deus nos comanda a devotar a pessoas e a coisas santas. Por exemplo, quem honra pai e mãe não comete idolatria. Pelo contrário, está cumprindo um mandamento divino explícito, como lemos em Êxodo: "Honra teu pai e tumãe." (Êxodo 20, 12)Da mesma forma, não há idolatria em honrar aqueles que, por suas vidas virtuosas, se tornam mais próximos da imitação de Cristo. A Escritura nos encoraja a isso: "Glória, honra e paz a todo aquele que faz o bem." (Romanos 2, 10) E quem não os honra, na verdade, desonra o próprio Deus que lhes concedeu essa honraria e dignidade. 


A Reverência aos Objetos Sagrados:

 A reverência que prestamos aos objetos sagrados — sejam eles imagens, relíquias ou outros artigos litúrgicos — não é dirigida ao material de que são feitos (madeira, gesso, ouro ou prata). Jamais. Essa reverência se dá porque esses objetos nos remetem à lembrança do amor divino ou à santidade daqueles que serviram a Deus1. Esse amor, manifestado também por meio desses símbolos, não pode ser ridicularizado ou profanado. Um exemplo dramático dessa proibição está na história bíblica de Baltazar: "O rei Baltazar deu uma festa para seus nobres. Excitado pela bebida, mandou trazer os vasos de ouro e prata que seu pai Nabucodonosor tinha arrebatado ao Templo de Jerusalém, a fim de que o rei, seus nobres, mulheres e suas concubinas deles se servissem para beber. O rei, seus nobres, suas mulheres e concubinas beberam neles, e depois entoaram louvor aos deuses de ouro e prata, bronze, ferro, madeira e pedra. Nesse momento, surgiram dedos de mão humana a escrever defronte do candelabro no revestimento da parede do palácio. O rei, à vista dessa mão que escrevia, mudou de cor; seus pensamentos ficaram tétricos; músculos e rins relaxaram. O texto dizia que Deus contou os anos do reinado de Baltazar, e nele põe um fim." (Daniel 5, 1-26)A profanação dos vasos do Templo, que eram objetos consagrados a Deus, trouxe uma imediata e severa condenação, mostrando que aquilo que é santificado por Deus deve ser tratado com o devido respeito. 


Imagens Sacras: Espelhos da Santidade:

As imagens sacras são, portanto, um espelho das coisas santas. Elas servem como um lembrete visual das verdades da fé e da santidade. A própria Bíblia, no Antigo Testamento, descreve a consagração de objetos e espaços que se tornam santíssimos pelo toque divino:" A purificação do altar se fará durante sete dias; e consagrarás esse altar, que se tornará coisa santíssima, e tudo que o tocar será consagrado." (Êxodo 29, 37)  


1 São João Damasceno. APOLOGIA CONTRA OS QUE CONDENAM AS IMAGENS SAGRADAS. (c. 675 – 749 d.C.)