O RESPEITO AO SAGRADO, MAS SEM ADORAÇÃO: A JUSTA VENERAÇÃO.

No contexto da fé, é comum surgirem dúvidas sobre a distinção entre venerar e adorar. Será que são a mesma coisa? A resposta é clara e enfática: NÃO. A veneração é uma atitude de profundo respeito e honra, direcionada a tudo que nos remete à memória e à presença de Deus. No entanto, ela se difere radicalmente da adoração, que é um ato de culto exclusivo e absoluto, devido somente a Ele.


Veneramos as Escrituras: Pela Verdade que Contêm.

Nós veneramos as Sagradas Escrituras não por serem meros objetos de papel e tinta. Nosso respeito vai muito além da sua composição material. Veneramos a Bíblia porque ela contém a verdade de Deus revelada, a Palavra inspirada que nos guia e alimenta a fé. Como sabiamente observou São Nilo, um Padre da Igreja do século V: "Admiro seu amor para com os capítulos, porque não se ama esses escritos simplesmente porque são feitos com tinta e papel, (...)" (São Nilo, Logos Ascéticos, ano 500 d.C.). Para alimentar nossa fé, a Palavra de Deus escrita deve ser respeitada e valorizada. Sua veneração se manifesta de diversas formas, como em sua proclamação solene durante a liturgia – muitas vezes anunciada em procissão e colocada em um lugar de honra no altar – de onde o sacerdote ou ministro proclamará as boas-novas da salvação, ali anunciada e renovada dia a dia. O Catecismo da Igreja Católica (§1154) corrobora essa prática: "A Palavra de Deus deve ser venerada na liturgia."


A Cruz e as Imagens Sacras: Símbolos de Amor e Dor.

Da mesma forma, veneramos a Cruz de Cristo e todas as imagens e ornamentos sagrados que nos lembram de Sua Paixão e dor. Não o fazemos pela matéria e composição de que são feitos, mas pelo que representam: o sacrifício redentor de Jesus e, principalmente, pelo que nos transmitem: o amor incondicional de Deus por nós. Na Santa Missa, há lugares especiais reservados no altar para a Cruz e para a Bíblia, evidenciando o profundo respeito da Igreja por esses símbolos e pela Palavra. Venerar é, portanto, uma atitude de respeito, servidão e reverência com a qual nos relacionamos com tudo aquilo que nos remete à memória de Deus. Isso inclui:

  • Objetos sagrados, como a própria Bíblia;
  • Símbolos da fé, como as imagens de Cristo, da Virgem Maria e dos santos;
  • Sinais sacramentais, como o pão e o vinho, que se tornam o Corpo e Sangue de Cristo na Eucaristia.

Veneração a Pessoas e Realidades Santas.

Essa reverência se estende também a pessoas e realidades que refletem a santidade de Deus:

  • Devemos venerar nossos pais, não como deuses, mas porque são representações da autoridade e do amor de Deus em nossas vidas, cumprindo o mandamento: "Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá." (Êxodo 20, 12).
  • Honramos os mártires por seu testemunho de fé até a morte e os santos por sua bondade e fidelidade a Cristo, pois eles são modelos de vida em Deus: "Os santos do Altíssimo receberão a realeza e a conservarão por toda eternidade." (Daniel 7, 18).

A tradição da Igreja, por meio dos Padres da Igreja, sempre defendeu essa veneração: "Antes de tudo, veneramos aqueles que em Deus puderam descansar, como a Santa Mãe de Deus e todos os santos." (cf. Is 57, 15) (São João Damasceno, Apologia Contra os que Condenam Imagens, Cap. 1, p. 6, anos 676-749).Em suma, venerar significa devotar respeito e honra a tudo que Deus tornou sagrado. É a reverência a tudo que por Ele foi santificado, não pelo que são enquanto matéria, mas porque espelham em nós as virtudes da Sua Justiça e do Seu Amor. É um convite a olhar além do visível e reconhecer a presença divina que permeia a criação e a história da salvação.