NO QUE CONSISTE A ADORAÇÃO? DESVENDANDO AS FORMAS DE CULTO.

Afinal, o que é adoração? E como ela se distingue de outras formas de culto, como por exemplo, a veneração? Compreender a profundidade de como nos relacionamos com Deus e com o que Dele provém é essencial para uma fé madura e consciente. 


As Duas Faces do Culto: Latria e Dulia.

 Deus, em sua sabedoria, revelou-nos duas espécies distintas de culto que, embora diferentes, não se confundem nem se anulam. Elas servem a propósitos específicos e complementares em nossa jornada espiritual: 

  1. Latria ou Adoração: Este é o culto de adoração plena, devida unicamente a Deus. Na latria, reconhecemos Deus em Sua essência divina, como o Criador e Senhor de tudo, digno do sacrifício supremo de amor. É um reconhecimento de Sua soberania absoluta e de Seu domínio sobre a vida e a morte.
  2. Dulia ou Veneração: Já a dulia é o culto de honra ou veneração. Ela é direcionada a tudo que provém de Deus, que O lembra, representa ou manifesta Sua glória e santidade. Isso inclui os santos, os anjos, a Virgem Maria, os objetos sagrados e as Sagradas Escrituras. Ao venerarmos, estaremos reconhecendo a digital de Deus neles, sendo estes, os sinais que nos ensinam o caminho que nos aponta para o Divino.
  3. Essa distinção é crucial e foi bem articulada pelos Padres da Igreja, como São João Damasceno, um dos grandes teólogos da Patrística: "Vamos entender que existem diferentes graus de culto. Primeiro de tudo, o culto de latria, que se destina a Deus, o único que por natureza é digno de adoração. Por causa de Deus, que é cultuado por sua natureza, honramos os seus santos e servos, como Josué e Daniel cultuavam o anjo; José foi cultuado por seus irmãos, e o culto foi baseado em honra, como no caso de Abraão e os filhos de Emor; (...) Recebemos o culto totalmente, de acordo com a sua medida apropriada." (São João Damasceno. Apologia Contra os que Condenam as Imagens, Capítulo 1, p. 14, anos 676-749)

 Essa citação de São João Damasceno é um pilar da teologia católica sobre o culto, esclarecendo que a honra a seres criados é sempre relativa a Deus. Por exemplo, o respeito que José recebia de seus irmãos ou que Abraão demonstrava aos filhos de Het (Gênesis 23, 7) não era idolatria, mas uma forma de honra humana e social. 


Latria: É o culto que se dá através do sacrifício Redentor de Cristo.

 Na latria, nossa interação com Deus se dá de forma sublime, especialmente por meio do sacrifício da carne e do sangue de Cristo, que se tornam presentes nos elementos eucarísticos do pão e do vinho. A forma pela qual celebramos o culto de latria é ensinado nas Escrituras:

“Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a OFERECERDES VOSSOS CORPOS EM SACRIFÍCIO VIVO, SANTO, AGRADÁVEL A DEUS: É ESTE O VOSSO CILTO RACIONAL." (Romanos 12, 1) “(…) NÃO ENTRAM EM COMUNHÃO  COM O ALTAR  OS QUE COMEM SUAS VÍTIMA?” (1 Coríntios 10, 18) TOMAI E COMEU,  ISTO É O MEU CORPO." (São Mateus. 26, 26)

A finalidade dessa adoração, a latria, é exclusivamente reparatória e salvífica. Seu objetivo principal é reparar nossos pecados e nos livrar da morte eterna, permitindo-nos participar gratuitamente do evento eterno do sacrifício de Jesus. Esse sacrifício é o único ato no mundo capaz e necessário para nos incluir na vida com Deus, restaurando nossa comunhão com Ele. Em suma, a adoração (latria) é o reconhecimento pleno da majestade divina e da obra redentora de Cristo. Já a veneração (dulia) é a honra devida à santidade que Deus imprime em Seus servos e em Seus instrumentos, sem nunca desviar a adoração que pertence somente a Ele.