IMAGENS PROIBIDAS vs. IMAGENS ORDENADAS: A NECESSÁRIA DISTINÇÃO.

 Afinal, Deus é contra toda e qualquer imagem? Essa é uma pergunta que frequentemente surge e gera confusão, especialmente quando lemos os mandamentos bíblicos. No entanto, uma análise mais aprofundada da própria Escritura e da tradição cristã revela que a resposta não é um simples "sim" ou "não". 


Contudo, a resposta clara é: não, Deus não é contra todas as imagens. O próprio Deus, em momentos cruciais da história da salvação, ordenou a criação de imagens específicas. Um exemplo notável é a serpente de bronze que Moisés fez por ordem divina, pendurada no madeiro. Essa serpente, longe de ser um ídolo, era um instrumento de cura e, teologicamente, prefigurava a morte redentora de Cristo na cruz, onde o pecado seria vencido. Veja o que nos diz o Livro de Números: "Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido, olhando para ela, será salvo. Moisés fez a serpente de bronze, e a afixou sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava a serpente de bronze, conservava a vida." (Números 21, 8-9) Isso prova que Deus não é contra, nem proíbe todas as imagens, mas sim aquelas que profanam Sua honra e desvirtuam a fé, como as estátuas de ídolos ou falsos deuses criados pela imaginação humana. A proibição do Decálogo (Êxodo 20, 4-6) é clara contra a fabricação de falsos deuses, figuras imaginárias para fins de ADORAÇÃO, e não aquelas que representam as realidades sagradas e úteis a instruir nossa fé e tocar nossos corações quando a manifestação do seu tão grande Amor por nós. 


Imagens: Testemunho do Visível e do Invisível

As imagens têm um papel fundamental em nos ajudar a reconhecer as obras invisíveis de Deus por meio das obras visíveis com as quais Ele marcou a história humana. A própria natureza, em sua beleza e complexidade, é um testemunho de Deus, como nos lembra o Apóstolo Paulo: "Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o Seu poder e divindade se tornam visíveis à inteligência por Suas obras." (Romanos 1, 20)Da mesma forma, as imagens criadas pelo homem podem servir a propósitos distintos e lícitos. Deus proíbe, por exemplo, a exposição pornográfica do corpo humano, que o objetifica e o desvirtua. No entanto, não proíbe retratar o corpo nu para mostrar a perfeição anatômica da criação ou para o conhecimento científico e artístico, desde que com dignidade e respeito. Assim, ao mesmo tempo que condena a feitura de imagens de animais para que se adore os bichos como "deuses" — "Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra" (Êxodo 20, 4-6) — Ele, paradoxalmente, ordena que se retratem coisas puras e santas do céu, como os querubins no Santo dos Santos:Também fez na casa do Lugar Santíssimo dois querubins de obra móvel, e cobriu-os de ouro." (II Crônicas 3, 10) 


A Perspectiva da Igreja e da Patrística

 A tradição cristã, refletida na teologia e na Patrística, reforça essa distinção. A Encarnação do Verbo, Jesus Cristo, que é a "imagem do Deus invisível" (Colossenses 1, 15), transformou nossa relação com o que é visível e representável. Se Deus se fez homem e se tornou visível, então é lícito representá-Lo em Sua humanidade. A proibição bíblica é contra a idolatria, ou seja, a criação de um ‘deus falso’ por meio de uma representação artística. Mas a representação de realidades divinas ou sagradas, que nos elevam a Deus e nos lembram de Sua presença e ação na história, é permitida e até encorajada. As imagens sagradas são uma ferramenta catequética e devocional que nos ajudam a reconhecer as obras invisíveis de Deus através das Suas manifestações visíveis na história humana. Assim, Deus não é contra as imagens em si, mas contra o mau uso delas: quando se tornam fins em si mesmas, em vez de fontes de ensino para dar a conhecer o Sagrado.