Já parou para pensar na verdadeira natureza espiritual da adoração? Mais do que ritos ou gestos externos, a adoração é um tributo de amor devotado a Deus. Ela implica em um profundo reconhecimento da nossa condição de devedores diante d'Ele, por termos ofendido Seu amor com nosso pecado, e nos afastado de Sua vontade. Nesse reconhecimento, nasce a disposição de ressarcir essa dívida através da comunhão com um amor tão grande, puro e verdadeiro quanto aquele que um dia renegamos. Mas como podemos, seres humanos falhos, oferecer um amor tão perfeito? A resposta reside em Cristo.
A dívida de amor da humanidade para com Deus, gerada pelo pecado, só pode ser quitada através do sacrifício de Cristo. Deus mesmo, em Seu infinito amor, realizou esse sacrifício por meio da humanidade que assumiu em Jesus, para sanar essa dívida que por nós era impagável. Por isso, os antigos ritos de adoração do Antigo Testamento, com o sacrifício inocente dos cordeiros primogênitos do rebanho, não eram um fim em si mesmos. Eles eram símbolos e prefigurações que apontavam diretamente para Jesus, para o seu futuro martírio e sacrifício perfeito. Veja o que diz o Livro de Levítico sobre o sacrifício de reparação: "Levará ao sacerdote, em sacrifício de reparação, um carneiro sem defeito, tomado do rebanho, e o sacerdote fará por ele a reparação da falta cometida e será perdoado." (Levítico 5, 18) Esses sacrifícios de animais eram uma sombra da realidade maior que viria com Cristo. Eles preparavam o coração do povo para entender que o perdão e a reparação viriam por meio de um derramamento de sangue inocente.
Com a vinda de Jesus, a adoração ganha uma nova dimensão. Em vez do sacrifício de animais, Deus agora deseja ser adorado no amor que Lhe ofertamos de corpo e alma. O Apóstolo Paulo nos exorta a uma adoração que é ao mesmo tempo espiritual e prática: "EU VOS EXORTO, POIS, IRMÃOS, PELA MISERICÓRDIA DE DEUS, A OFERTARDES VOSSOS CORPOS EM SACRIFÍCIO VIVO, SANTO E AGRADÁVEL A DEUS: É ESSE O VOSSO CULTO RACIONAL." (Romanos 12, 1)Essa é a nossa verdadeira liturgia existencial: oferecer nossa vida inteira – pensamentos, ações, emoções – como um sacrifício sagrado, vivo e eterno a Deus. E como realizamos esse culto racional? Não há outra maneira de nos ofertarmos e, assim, adorarmos a Deus, senão quando participamos do sacrifício do Cristo crucificado. É na Eucaristia, no Sacramento da Comunhão do AMOR, que essa adoração se torna visível e eficaz: "O CÁLICE DE BÊNÇÃO, QUE BENZEMOS, NÃO É A COMUNHÃO DO SANGUE DE CRISTO? E O PÃO QUE PARTIMOS, NÃO É A COMUNHÃO COM O CORPO DE CRISTO? NÃO ENTRAM EM COMUNHÃO COM O ALTAR OS QUE COMEM AS VÍTIMAS?" (1 Coríntios 10, 16-18)
A Igreja Primitiva já compreendia essa verdade fundamental, como atestam os Atos dos Apóstolos:"
Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações." (Atos 2, 42)
Nenhum ato corpóreo, nenhum movimento humano no campo do pensamento ou da arte, e nenhuma outra operação – seja física ou mental – pode substituir a profunda comunhão com o sacrifício de Cristo. Somente n'Ele, sacramentado nos elementos de Sua carne (o Pão) e do Seu sangue (o Vinho), haverá adoração em verdade e em espírito. O próprio Jesus nos ensinou o significado desses elementos sagrados: "EU RECEBI DO SENHOR O QUE VOS TRANSMITI: NA NOITE EM QUE FOI TRAÍDO, JESUS TOMOU O PÃO, E DEPOIS DE TER DADO GRAÇAS, PARTIU-O E DISSE: 'ISTO É MEU CORPO QUE É ENTREGUE POR VÓS." (1 Coríntios 11, 23-24)
Em resumo, a adoração evoluiu de ritos prefigurativos no Antigo Testamento para a participação real e sacramental no sacrifício de Cristo no Novo Testamento. Agora, nossa adoração é um encontro transformador com o Amor Divino que se deu por nós, convidando-nos a também nos entregarmos por inteiro a Ele.