O papel da mulher na visão divina e na Igreja tem sido objeto de reflexão profunda ao longo dos séculos. Abordaremos os pontos que, à primeira vista, parecem diminuir sua condição, para então revelarmos, à luz da fé e do ensino da Igreja, como o nascimento de Jesus por meio de uma Mulher, Maria, elevou a dignidade de todo o gênero feminino a patamares sublimes.
MAS EM CONTRÁRIO, a verdade mais eloquente reside em um fato inegável: foi dentro do ventre de uma mulher que o Sagrado Coração de Jesus, o Deus feito homem, escolheu bater pela primeira vez.
O ventre da mulher foi escolhido por Deus para ser a fonte da qual emanaria sobre a terra o Amor mais sublime. Essa realidade divina nos convida a meditar sobre a digníssima e especial participação que o sexo feminino, por meio da Virgem Maria, teve no mistério da Encarnação do Verbo e no plano de Deus.
Cristo, ao nascer, foi alimentado, amado, cuidado e protegido por uma mulher. Nisso, Deus manifestou Seu amor a todas as mulheres, representadas em Maria, honrando o sexo feminino ao dar-lhe a guarda de Seu próprio Filho Divino.
O vínculo extraordinário que Deus estabeleceu com a Virgem, e por meio Dela com o gênero feminino, marca a elevação da condição e do papel da mulher não só na família e na sociedade, mas também na Igreja.
Vemos isso claramente no livro de Atos dos Apóstolos (1, 14), com a menção honrosa a Maria presente na Assembleia Eclesiástica, onde todos os santos Apóstolos e discípulos estavam reunidos para a escolha do substituto de Judas, o traidor, respondendo assim às questões acima.
Convinha à reta Justiça que Cristo, vindo ao mundo como homem, tomasse Sua natureza carnal da mulher para que ambos os sexos pudessem ser prestigiados no plano da salvação e no mistério da Encarnação do Verbo.
As Escrituras confirmam: "[...] JESUS, nosso Senhor, DESCENDENTE de Davi quanto à CARNE" (Romanos 1, 3); e Isaías (7, 13-14) profetiza: "Ouvi, CASA DE DAVI. O Senhor vos dará um sinal: UMA VIRGEM CONCEBERÁ e DARÁ À LUZ UM FILHO, e o chamará DEUS CONOSCO."
Se o pecado veio ao mundo por meio do homem Adão e da mulher Eva (cf. Gênesis 3, 6), era essencial que tanto o sexo masculino quanto o feminino houvessem de participar do plano de reparação desse pecado.
Santo Agostinho, em A Religião Cristã (Cap. XVI, p. 39), ensina: "[...] o Verbo apareceu entre os homens, como verdadeiro homem. Convinha que assumisse a mesma natureza a ser redimida. E PARA QUE NENHUM SEXO JULGASSE SER PRETERIDO pelo Criador, HUMANIZOU-SE EM FORMA DE VARÃO, NASCENDO DA MULHER."
Se Eva, a mulher antiga, foi a porta pela qual o pecado e a morte entraram no mundo, atingindo Adão, a nova Mulher, Maria, é a porta pela qual entraram a salvação e a vida eterna para os filhos e filhas de Adão.
Do ventre da antiga mulher, contaminado pelo pecado, nasceu a humanidade pecadora. Do ventre isento de mácula da nova mulher nasceu a humanidade pura e incorrupta, unida à Divindade — humanidade esta na qual renasceremos para a vida eterna.
Sendo Cristo o novo Adão, por ser o Pai da nova humanidade Nele regenerada da maldade, Maria é a nova Eva (cf. Santo Irineu, Contra as Heresias, V, 19,1, p. 569).
Em seu ventre foi gerada a humanidade de Jesus, na qual somos renascidos, o que a torna Mãe de todos os que renascem dessa nova humanidade, os filhos da Igreja. Jesus mesmo testemunhou isso na cruz ao seu apóstolo: "[...] MULHER, EIS AÍ TEU FILHO. FILHO, EIS AÍ TUA MÃE." (João 19, 26-27).
Assim como em Eva, amaldiçoou-se o ventre; Deus agora, utilizando Maria, santifica o ventre, e por meio Dela, santifica o ventre de todas as mulheres para gerar os santos e santas que herdarão os céus e a terra.
Em Maria, Deus reconstruiu o nome de Eva, pois se através de Eva todas as mulheres foram desonradas na sedução da serpente, as maravilhas que Deus reservou e fez em Maria reconstruíram a dignidade de todas elas, como testemunhado pela Virgem: "O SENHOR FEZ MARAVILHAS EM MIM." (Lucas 1, 49).
Na plenitude dos tempos, conhecida como o tempo de Cristo, a glória de Deus se manifesta extraordinariamente, fazendo tudo novo e elevando à perfeição o que na Antiga Lei era imperfeito (cf. 1 Coríntios 13, 10).
Se em Cristo a união da Divindade com a humanidade elevou a dignidade e o papel da natureza humana, da mesma forma, a união do homem com a mulher no matrimônio, formando uma só carne, num só corpo e numa nova realidade, elevou a condição da mulher. Jesus ensina: "[...] e serão os dois uma só carne." (Marcos 10, 8; cf. Gênesis 2, 24).
Ora, se há uma só carne, já não há diferença essencial entre eles, senão apenas acidental, conforme a natureza própria dos sexos distintos.
A "submissão" (se assim ainda podemos dizer) da mulher ao marido deixou de ter o caráter punitivo como na antiga aliança, onde a colocava em situação de escrava do esposo, como ser inferior, incapaz de vontade, pensamentos, habilidades, talentos, voz, direito a exercer direitos civis e naturais, de desenvolver uma personalidade feminina própria ou de ter direito à sua dignidade pessoal.
O homem agora assumiu o Sacerdócio Doméstico de sua esposa, tornando-se responsável pelo serviço a ela devotado, de conduzi-la ao encontro com Deus e à alegria da vida eterna. (cf. Efésios 5, 24). Do mesmo modo que Cristo (figura do marido) foi incumbido de conduzir Sua Igreja (figura da mulher) à alegria da vida eterna e, para tanto, pagou com a vida (Efésios 5, 25), incumbe ao esposo conduzir sua esposa a conhecer e viver com ele as verdades necessárias à salvação de ambos.
Para isso, ele deve "morrer" para o seu egocentrismo e seu pensamento matriarcal que lhe dá a falsa consciência que pelo fato de ser homem, isto só já lhe faz superior a ela.
Deverá então, respeitá-la de corpo e alma nas situações cotidianas, para que ela encontre a paz e a felicidade verdadeira, as quais se alojam na Verdade e na Bondade Divina.
Reciprocamente, incumbe à mulher santificar o marido por meio de sua sensibilidade mais apurada e vocação à maternidade.
A submissão agora é recíproca entre homem e mulher, e estes, num só corpo, a Cristo, como ensinou São Paulo: "Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo." (Efésios 5, 21).
E ainda: "[...] porque todos quantos em Cristo fostes batizados, de Cristo vos revestistes. NÃO HÁ JUDEU NEM GREGO, ESCRAVO OU LIVRE, HOMEM OU MULHER PORQUE VÓS SOIS UM SÓ EM CRISTO." (Gálatas 3, 28).
É por isso que a Igreja, no documento Mulieris Dignitatem (parágrafo XXIV, de São João Paulo II, 1988), ensina:
"Todas as razões em favor da submissão da mulher ao homem no matrimônio devem ser interpretadas no sentido de uma submissão de ambos no temor de Cristo. A medida do verdadeiro amor esposal encontra a fonte mais profunda em Cristo, que é o Esposo da Igreja, sua esposa; [...] O autor da Carta aos Efésios não vê contradição alguma entre uma exortação formulada dessa maneira e a constatação de que 'as mulheres sejam submissas aos maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher' (5, 22-23). O autor sabe que esta impostação, tão profundamente arraigada nos costumes e na tradição religiosa do tempo, deve ser entendida e atuada de um modo novo: como uma 'submissão recíproca no temor de Cristo' (cf. Ef 5, 21); tanto mais que o marido é dito 'cabeça' da mulher como Cristo é cabeça da Igreja; e ele o é para se entregar 'a si mesmo por ela' (Ef 5, 25) e se entregar a si mesmo por ela 'é dar até a própria vida.' Mas, enquanto na relação Cristo-Igreja a submissão é só da parte da Igreja, na relação marido-mulher a 'submissão' não é unilateral, mas recíproca!"