Aconselhar é, de fato, um dom do Espírito Santo, uma manifestação da graça divina em nós.
As Escrituras, fundamentadas na Santa Tradição cristã, reconhece o Conselho como um dos sete dons do Espírito Santo, agindo em conjunto com a sabedoria, o entendimento, a fortaleza, a ciência, a piedade e o temor de Deus.
Como nos lembra o profeta Isaías:
"Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor do Senhor." (Isaías 11,2).
A "prudência" mencionada aqui é a virtude pela qual o Espírito nos ilumina para discernir o caminho reto, orientando-nos em nossas decisões e ações:
"Em Deus residem a sabedoria e o poder. Ele possui o conselho e a inteligência. (Jó 12, 13)
Entretanto, para que o conselho seja eficaz e verdadeiramente inspirado, ele deve brotar de uma fonte de sabedoria e conhecimento genuínos.
Não se pode aconselhar sobre o que se ignora, nem transmitir uma compreensão distorcida ou imperfeita. Por essa razão que os guias espirituais – sejam eles pais, sacerdotes ou, no passado, os Apóstolos – são chamados a buscar a sabedoria e a ciência. Somente assim podem orientar o povo rumo à salvação e ao amor de Deus.
A própria Palavra divina nos assegura: "Em Deus residem a sabedoria e o poder. Ele possui o conselho e a inteligência." (Jó 12,13). E é nesse contexto que o conselho paterno se torna um caminho para a vida plena: "Ouvi, meus filhos, os conselhos de vosso pai, segui-os de tal modo que sejais salvos." (Eclesiástico 3,2).
O dom do conselho, contudo, anda de mãos dadas com outro presente inestimável de Deus: a liberdade humana.
Os conselhos e as exortações, ao nos conduzirem ao amor de Deus, aperfeiçoam esse dom precioso.
O valor do conselho se estende até mesmo àqueles que, recebendo-o, deliberam livremente sobre ele, decidindo até mesmo rejeitá-lo. Mesmo nestes casos, a oportunidade de se afastar do mal e de escolher o Bem não lhes é negada.
Em sua essência, os conselhos abrem uma porta, um caminho que jamais se fecha. Por meio deles, é possível seguir em frente a todo momento, bastando que os coloquemos em prática.
O dom espiritual de aconselhar seria inútil se o indivíduo não fosse dotado de sua contraparte divina: a liberdade de escolha.
Não teria propósito o conselho se não fosse dado ao ser humano a faculdade de mudar suas escolhas em razão do que lhe é aconselhado.
É na interação entre o conselho que nos ilumina e a liberdade que nos permite agir que se manifesta a riqueza da graça de Deus em nossa jornada de fé.