Convém ao ser humano interceder? A resposta é sim. O ser humano, por natureza, é um ser político e sociável, feito para interagir e transformar a realidade à sua volta. A intercessão é uma consequência natural da nossa sociabilidade, como ensinava Aristóteles: "Ninguém escolhe a posse do mundo inteiro, sob a condição de viver nele sozinho. O homem é um ser político e está em sua natureza viver em sociedade" (Ética a Nicômaco, Livro IX, 9). Essa característica não se opõe a Cristo, o Mediador perfeito (1 Timóteo 2, 5), mas é utilizada por Ele para que sejamos, uns para os outros, condutores do amor celestial. O egoísmo mata a fé.
O cristianismo é essencialmente comunitário, pois os preceitos da fé na vida social nos ordenam a Deus. Estar com Ele significa não nos fecharmos aos outros, especialmente aos mais necessitados.
O próprio Jesus orou por nós para que fôssemos um, como Ele e o Pai são um, a fim de que o mundo cresse, exaltando seus discípulos e Apóstolos pelos quais a mensagem cristã chegou a todos : "Não oro somente por estes discípulos, mas igualmente por aqueles que vierem a crer em mim por intermédio da mensagem deles, para que todos sejam um no Pai, como Tu, Pai, estás em mim, e eu em Ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste. Eu lhes tenho transferido a glória que me tens dado, para que sejam um, como Nós somos" (João 17, 20-22). Ele mesmo nos ensina a permanecer Nele, a videira, para que possamos dar frutos: "Eu sou a videira; vós, os ramos" (João 15, 5).
Divisões e individualidades enfraquecem o Corpo de Cristo. Tudo o que se decompõe se contradiz e se corrompe. É por isso que a Igreja, sendo o Corpo de Cristo, precisa ser una, sem divisões.
A nossa vida em sociedade é uma necessidade humana que Deus utiliza para aumentar a fé, a esperança e o amor fraterno no mundo. Sendo incompletos em nossa individualidade, nos completamos na unidade comunitária da Igreja, como afirma São Paulo: "O que me falta das tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu Corpo que é a Igreja" (Colossenses 1, 24).
Somos uns pelos outros, pois Cristo foi, é, e sempre será tudo para todos. Se participamos da realidade de sua cruz, participamos do mesmo Corpo crucificado, do qual nos tornamos membros, tendo Cristo como a Cabeça. Se compartilhamos do mesmo amor e vida, então compartilhamos da mesma intercessão, já que "nós, embora muitos, formamos um só corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro" (Romanos 12, 5).
Deus elevou nossa intercessão à virtude do amor fraterno. As conexões que nos unem nesse Corpo trabalham para o nosso crescimento espiritual e a edificação da fé na caridade, como nos recorda a Escritura: "Todo o corpo, coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria, efetua o crescimento espiritual, visando a plena edificação da fé na caridade" (Efésios 4, 16).
Ao longo da história da salvação, Deus demonstrou a importância da intercessão humana. Abraão intercedeu a Deus para que curasse Abimelec e sua família (Gênesis 20, 17), e o livro de Jó menciona a figura do "intercessor entre mil" (Jó 33, 23).